Belo Horizonte é uma cidade conhecida por sua rica tradição gastronômica, que vai muito além do famoso pão de queijo. Nas ruas da capital, as pastelarias se destacam como pontos de encontro em uma mistura de tradição e inovação, refletindo a diversidade e o talento dos empreendedores mineiros. Com recheios que vão do clássico carne moída ao inusitado queijo com goiabada, os pastéis são uma verdadeira paixão. Além de sabores que carregam a essência da comida de rua do estado, eles oferecem um lanche rápido e acessível.
O administrador da Pastelaria Ouvidor, Antônio Lara, conta que a história do ponto é doce: antes de ser uma pastelaria, era uma confeitaria. “Depois de um tempo dessa forma, os negócios não estavam indo do jeito que meu pai queria, então ele resolveu inovar”, conta. O fundador, Aroldo, contava que pastel era um lanche ligado à classe popular, então foi uma “ousadia sem tamanho” abrir uma lanchonete na Galeria do Ouvidor, porque ela foi criada como um centro de modas para a classe alta.
Apesar disso, o sucesso veio rapidamente: “A ideia de trazer um produto que, mesmo simples, tem que ser de alta qualidade e com bons ingredientes faz com que a produção no fim seja incrível”, diz Antônio. Para ele, esse é o grande diferencial da marca até hoje.
A receita é basicamente a mesma desde o início, em 1965. Os pastéis são 100% artesanais e seguem um padrão para que tenham o mesmo formato e tamanho. Antônio explica: “Trabalhamos para ter uma padronização, mas dentro de uma produção individual. Cada salgado é único, não temos uma fabricação feita em série à máquina.”
Atualmente, a loja trabalha com cinco sabores: carne, queijo, frango, palmito e banana, que vem como uma opção de sobremesa. “Houve uma época em que a gente trabalhava outros sabores, como o de bacalhau, durante a Semana Santa. Mas, com o passar do tempo e as instabilidades da economia, produzir isso ficou inviável e as pessoas perderam esse hábito de consumo”, comenta.
Os recheios de carne e queijo continuam a ser os preferidos: “Existem outros estabelecimentos com maneiras diferentes de fazer pastel, com os recheios mais variados possíveis, que o cliente pode escolher e montar na hora, tanto aqui quanto em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mas acho interessante que as pessoas sempre retornam aos sabores tradicionais”, aponta.
A pausa para comer um pastel no agito do Centro pode ser acompanhada de um refrescante caldo de cana ou uma xícara de café.
Amor e trabalho
Para o administrador, o segredo de um bom pastel é fazer com profissionalismo e prazer, desafiando-se a sempre melhorar. “Temos orgulho da nossa lanchonete, dos nossos funcionários que estão lá há vários anos e que entendem que esse é o grande espírito da coisa. Não só trabalhar pela qualidade do produto, mas pela qualidade das pessoas que trabalham no local e têm um cuidado geral com tudo.”
No fim das contas, eles abrem as portas todos os dias para que as pessoas colecionem memórias: “Trabalhamos muito para que o cliente tenha uma boa lembrança daqui. Não é só um pastel, não é só um lanche; é um momento, uma experiência culinária. Não é porque é algo simples que deve ser feito de qualquer maneira ou com qualquer ingrediente”, defende.
Massa no rolo
Nos últimos anos, a Pastelaria Ouvidor inovou com a fabricação e a venda de massa de pastel vendida em rolos de um quilo. “As pessoas podem fazer em casa ou revender pastéis com o recheio que quiserem”, esclarece Antônio Lara. Versátil, a massa não só se transforma em um pastel crocante e sequinho como surpreende no preparo de outras receitas, como macarrão, lasanha e canelone. Isso porque ela pode ser frita ou cozida, com ou sem recheio.
Tudo começou no bar
Fundador do Rei do Pastel, Alexandre de Assis tem uma história familiar com atendimento no balcão. “A minha família sempre mexeu com bares. Como a minha mãe não tinha uma boa condição financeira, eu estudava e trabalhava com os meus tios. Assim, fui pegando a referência de como era trabalhar. Parece que já estava no meu DNA.”
Quando Alexandre saiu da escola, foi trabalhar com a tia em uma pastelaria: “Nos anos 1990, ela tinha uma pastelaria na Rua Paraíba, chamada Dona Pastel, e me pediu ajuda, então fui para lá trabalhar e fiquei durante um ano. Em 1996, montei o Rei do Pastel”, relembra.
A primeira loja foi montada na esquina da Rua Professor Moraes com a Avenida do Contorno. “Era muito pequena: eu, minha irmã e quatro funcionários. Não imaginava chegar aonde nós chegamos”, diz. Nos anos 2000, a irmã foi para o Canadá e Alexandre ficou sozinho. A loja foi crescendo e, em 2006, ele abriu a segunda unidade, na Rua Fernandes Tourinho. Hoje são seis lojas com 135 funcionários. A última, na Rua Alagoas, foi aberta em 2021, durante a pandemia.
O empresário acredita que o pastel se tornou popular pela questão de ser rápido, gostoso e nutritivo: “Atualmente, o mundo está acelerado, então as pessoas preferem comer uma coisa que satisfaça e que seja de qualidade, levando em consideração o custo-benefício”, opina.
A receita vem desde a pastelaria da tia: “É de família, tem praticamente 50 anos”, revela. “Para mim, o que diferencia o Rei do Pastel dos outros estabelecimentos é a vontade de querer atender as pessoas como a gente gostaria de ser atendido. Meu lema é esse. Lanche com bebida tem em vários lugares, mas tratar o cliente bem, vender um produto de qualidade como os que a gente faz aqui não achamos em qualquer lugar. O que eu faço para minha família eu faço para os meus clientes.”
Os recheios preferidos são os clássicos: carne, queijo e frango, nessa sequência. Para a sobremesa, o pastel de banana é o favorito do público. “Gastamos em torno de 200 a 300 quilos de carne moída por dia. De queijo, são mil quilos por semana. Aqui, a mercadoria não estraga, pela rotatividade”, diz Alexandre. “Uma curiosidade é que nós fomos os primeiros a trazer a combinação com caldo de cana, o que virou um diferencial do Rei do Pastel no fim dos anos 1990”.
Lanches noturnos
E o que fez o Rei do Pastel se tornar referência em lanches noturnos na capital mineira? “Uma vez, nós fomos passar o carnaval em Nova Lima. Quando voltamos, não tinha nada para comer. Fiquei chocado, não tem nada aberto em Belo Horizonte depois de meia-noite. Assim, resolvemos abrir de madrugada e o negócio foi crescendo, até porque trabalhamos com uma mercadoria de primeira qualidade. A gordura é de algodão e a carne é fresca, então não tem como dar errado”.
Alexandre acrescenta que usa matérias-primas excelentes e respeita o tempo dos processos. “A farinha tem que ser de primeira qualidade e os maquinários precisam garantir o tempo de descanso da massa. O estabelecimento também deve ter um lugar com boa refrigeração. Se for transportar, o carro precisa ser refrigerado. Tudo interfere no resultado, desde colocar a farinha para bater até a hora de fritar, levando em consideração a temperatura do óleo. Tudo tem o seu tempo”, detalha.
Inovar é preciso
Fundado em 2008, o Rei do Pastel Gourmet aposta em inovação desde o início. Primeiro, em 2016, Humberto Ferreira lançou um dos primeiros serviços de entrega de pastel do estado. “Isso trouxe um boom muito grande para a empresa”.
Para conquistar clientes nesse competitivo mercado, mais ideias inovadoras. O rodízio de pastel é uma delas e faz muito sucesso: “De segunda a quinta, o rodízio só de pastel custa R$ 39,90. Com caldo de cana liberado fica em R$ 52,90. Na sexta e nos fins de semana e feriados, temos o rodízio de pastel por R$ 44,90, com 14 sabores diferentes, como frango com bacon e antepasto de berinjela para os veganos”.
Pensando no gosto dos clientes, os recheios preferidos ainda são carne e queijo. “É o básico que funciona e todo mundo ama”. Mas o cardápio tem mais de 20 sabores. Hoje, o pastel com sabor mais diferente que está entre os campeões de vendas é o de alho-poró com catupiri, seguido pelo de carne seca e o de camarão. “O pessoal também pede muito os doces, são os queridinhos. Entre eles, o de churros de doce de leite, que cobrimos de canela.”
Em novembro do ano passado, a pastelaria expandiu e abriu uma loja na Avenida Fleming de 400 metros quadrados: “Hoje temos uma loja gigante. É a maior pastelaria de BH em tamanho físico”. Neste novo espaço, o empresário vem tentando mostrar que pastel nem sempre precisa ser um lanche rápido e barato.
“Montamos um salão grande e climatizado, com música ao vivo e espaço kids. Tudo é focado no pastel, mas também nos propomos a ser um restaurante com porções de carnes e outros petiscos. Queremos que as pessoas comam com calma, degustem o lanche enquanto conversam com a família e os amigos”, destaca Humberto.
Segundo o fundador do Rei do Pastel Gourmet, o segredo é a massa artesanal. “Não passamos receita para ninguém, mas posso dizer que é uma massa bem tradicional. Isso em conjunto com um recheio gostoso e diferente explica o sucesso do lanche.” Sem contar que os pastéis são montados e fritos na hora.
A inovação continua a direcionar a história do negócio. “Quando eu ou a minha irmã vemos uma receita de outro salgado ou de alguma pizza, tentamos adaptar para o pastel, justamente para ser diferente”, explica. A loja serve, por exemplo, o inusitado pastel de hambúrguer: a massa entra no lugar do pão e, no recheio, você vai encontrar carne de 100g, presunto, muçarela e bacon. Acompanha batata frita.
Aposta certeira
A Pastelaria Marília de Dirceu foi inaugurada em novembro de 1992 por Andrea e Yara Bahia, nos jardins da casa onde Ângelo (falecido) e Maria José Bahia (Mazé) criaram seus cinco filhos (Andrea, Silvana, Mariângela, Flávia e José Mário (marido da Yara). “A empresa começou em 27 metros quadrados e, desde a inauguração, não parou de crescer. Oito anos depois, aconteceu a primeira fase de expansão da loja”, conta a gerente-geral Juliana Bahia, filha de Silvana.
Com o tempo, Mazé resolveu mudar de casa e pediu para que toda família entrasse na sociedade. As filhas Silvana e Mariângela, que ainda não faziam parte da empresa, também entraram como sócias e ajudaram a suportar o maior crescimento do negócio desde 1992. A pastelaria passou a ocupar todo o imóvel cedido pela matriarca e a fábrica própria situada no Bairro São Francisco, na Região da Pampulha.
“Continuamos com o processo de aperfeiçoamento e modernização da empresa com o meu ingresso e o do André, formado em administração. Atualmente, somos responsáveis pelas áreas da administração geral e financeira, respectivamente”, conta Juliana, que é engenheira de alimentos.
Na opinião dela, a popularidade do pastel se explica por ser um produto barato e que todo mundo gosta, tanto crianças quanto adultos. “O segredo é uma massa fina, sequinha e crocante, com um recheio feito de matérias-primas de qualidade”, explica.
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Os clientes da Marília de Dirceu têm como favoritos os sabores clássicos: carne e queijo. Mas o cardápio não se resume a isso. Tem espinafre com provolone, carne com azeitona, napolitano, camarão, bacalhau etc. Entre os doces, chocolate, doce de leite com queijo, banana e goiabada com catupiri.
Serviço
Pastelaria Ouvidor
Rua São Paulo, 656, loja 8 – Centro
(31) 3271-5550
@pastelariaouvidor
Rei do Pastel
Avenida do Contorno, 5680 – Savassi (e mais cinco endereços)
(31) 3221-8678
@reidopastelofficial
Rei do Pastel Gourmet
Avenida Fleming, 272 – Ouro Preto
(31) 99515-6781
@reidopastelbh
Marília de Dirceu
Rua Marília de Dirceu, 70 – Lourdes
(31) 3335-2700
@pastelariamariliadedirceu
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino