Belo Horizonte tem se consolidado como um destino vibrante para os amantes do vinho. Além das prateleiras recheadas com rótulos de diversas partes do mundo, as lojas especializadas da cidade estão transformando a compra da bebida em uma experiência imersiva. Espaços aconchegantes, degustações, serviços de wine bar e até eventos temáticos fazem parte do pacote que atrai desde os curiosos até os conhecedores mais exigentes. Neste cenário, traçamos uma rota de estabelecimentos que oferecem mais do que apenas boas garrafas.
Vencedora na categoria melhor loja de vinhos do prêmio nacional “Melhores da Taça 2024”, promovido pela revista Prazeres da Mesa no mês de setembro, a Casa Geraldo começou a ter a sua história escrita há mais de 50 anos por uma família de imigrantes italianos.
Em 1969, Geraldo Marcon adquiriu a Fazenda São Geraldo e o Sítio Bom Fim, no município de Andradas, no Sul de Minas, onde passou a cultivar uvas para produção de vinhos. Desde então, a família tem se dedicado à elaboração da bebida, em um trabalho transmitido de geração para geração. Após o falecimento do pai, Luiz Carlos deu continuidade à tradição. Hoje quem administra o negócio são os seus três filhos: Carlos Geraldo, Luiz Henrique e Michel Marcon.
“Foi uma homenagem do filho ao legado do pai. Nos anos 2000, Luiz Carlos resolveu criar a marca Casa Geraldo, dedicada aos vinhos finos”, relembra o gerente da unidade de BH, Leonardo Gomes. Agora, de posse do novo título conquistado, a loja vê um mercado em ascensão.
“Por se tratar de um vinho mineiro, o pessoal tem muita curiosidade de provar e fica surpreso com a qualidade. Isso atiça o interesse por degustar cada vez mais rótulos. O consumidor é exigente e começou a ver valor nos vinhos mineiros. Ainda perdemos para a cerveja, devido, principalmente, ao clima quente, mas estamos engatinhando, é um cenário promissor”, analisa Leonardo.
A loja tem um portfólio variado, com mais de 60 opções de vinhos, espumantes, sucos de uva e cachaças da vinícola mineira, que variam de R$ 29 até R$ 500.
“Temos para todos os gostos e bolsos. Produzimos, em média, dois milhões de litros por ano. Destaco os vinhos de colheita de inverno, que são símbolos entre os rótulos mineiros, principalmente aqueles feitos com a uva Syrah”, explica. Leonardo acrescenta que esses vinhos tintos apresentam um sabor encorpado e complexo, com uma combinação de sabores frutados, picantes e terrosos.
Cursos e degustações
Na Casa Geraldo, é possível experimentar qualquer opção de vinho, porque lá tem um serviço de degustação permanente. “Todos os dias, auxiliamos nossos clientes na procura de vinhos, quando desejam presentear ou buscam um rótulo que atenda a cada gosto”, diz Leonardo.
A loja também promove cursos na área. “Trata-se de uma iniciação para os que querem aprender mais sobre esse mundo, desde a forma correta de abrir a garrafa até as melhores harmonizações e modos de servir”, ressalta o gerente. Os dias e horários das aulas são publicados nas redes sociais da loja.
Seleção exclusiva
A Liber Wines é uma importadora mineira de vinhos, fruto de um sonho da CEO Patrícia Tobias, que trabalha em uma empresa de logística e, por isso, conhece os trâmites de importação e exportação. “Quando ela viajava para congressos e conferências, sempre visitava uma vinícola. Até que ela teve a ideia de unir as duas coisas”, relata a sommelier da marca, Maria Bragaglia.
A CEO ficava indignada ao ver que vinhos bons e com preços acessíveis não chegavam ao território nacional. Foi quando ela começou a entender que os pequenos produtores não sabiam como funcionava a exportação para um país grande e burocrático como o Brasil.
Munida de conhecimento em comércio exterior e paixão por vinhos, Patrícia resolveu ajudar os produtores a trazer o produto para o solo brasileiro e deu o “start” na Liber Wines.
“A primeira importação aconteceu em 2020 e foi desafiadora por ter sido na pandemia. O contêiner de vinhos ficou travado na Europa por alguns meses. Decidimos, então, começar as atividades com uma vinícola chilena e outra nacional. Depois, os produtos foram chegando, começamos a prosperar e ampliamos o nosso portfólio”, relata a sommelier. Hoje, a loja conta com mais de 200 rótulos de países como Argentina, Chile, Uruguai, Portugal, Espanha, França e Itália.
De acordo com Bragaglia, a Liber zela pela exclusividade do produto, portanto, só importa aqueles que não têm representação no país ou em Minas Gerais. Os vinhos são selecionados de vinícolas de pequenos produtores. “A ideia não é vender vinhos ‘BBB’ (bom, bonito e barato), e sim trazer vinhos com conceitos e propostas de pessoas que têm uma história para contar”, explica.
Sabor e preço
Cada rótulo passa por um processo de degustação às cegas pela equipe de sommeliers. “Não colocamos à venda nenhum vinho que não tenha sido degustado. Depois da avaliação, tomamos a decisão se vale a pena importar o rótulo, baseado no sabor que oferece e na projeção de preço no mercado nacional”, garante.
A casa possui dois campeões de vendas, sendo o primeiro o vinho branco Feudo dei Venti Pinot Grigio DOC, da região do Vêneto, na Itália. Conforme explica a sommelier, “as uvas Pinot Grigio têm caído nas graças dos brasileiros por resultar em um vinho muito fresco, leve, elegante e versátil à mesa”. Por ter uma acidez alta, combina com aperitivos, carnes brancas, peixes e frutos do mar, queijos e saladas.
Já o La Grive Musicienne Pinot Noir IGP é um tinto da região do Languedoc, no Sul da França. Possui notas de frutas vermelhas maduras, como morango e cereja, além de ervas secas, entre elas tomilho, e é a combinação perfeita para aperitivos, risotos e massas, carnes assadas, aves e queijos macios. As opções da carta de vinhos custam a partir de R$ 59 e podem chegar a R$ 3362.
Democratização
Maria conta que, durante a pandemia, o consumo da bebida mudou. “As pessoas começaram a entender o vinho, não só como algo a ser consumido em restaurante ou ocasião especial, passou a ser parte do dia a dia de muitos brasileiros, houve uma democratização, deixou de ser elitista”, acredita. Com isso, ela diz que surge a curiosidade do consumidor.
Apesar de saber que o mineiro tem o costume de comprar os rótulos mais famosos ou o vinho de uma uva específica, ela tem observado o interesse dos clientes em explorar novas possibilidades. “A partir do momento em que você consome em casa, surge mais curiosidade de consumir uvas diferentes, de países diferentes, como um hobby. Isso nos dá espaço para trazer o novo”, alega.
Cozinha aberta
A Liber Wines oferece uma estrutura adequada para eventos e encontros. O Espaço Confraria, por exemplo, pode ser alugado para comemorações privadas. “É um espaço para respirar o vinho. Tem uma cozinha aberta onde as pessoas podem interagir com o chef”, destaca a sommelier.
A área externa ao lado da loja também funciona diariamente para o cliente realizar reuniões ou se reunir com amigos. “Servimos vinhos na taça para degustação e contamos com um cardápio funcional de frios e embutidos para acompanhar”. O funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h, e sábado, das 9h às 14h.
Além disso, o espaço realiza eventos esporádicos, como as noites italiana e portuguesa, e especiais de dia dos namorados. “Geralmente, convidamos um chef e montamos um valor fechado que inclui a degustação e até compras.” A programação é divulgada nas redes sociais.
Sentou, bebeu
Fundada em 2010, a Vinho & Ponto é uma importadora de São Paulo, que começou a expandir seus serviços em 2014 por meio de franquias pelo Brasil. Em agosto deste ano, chegou a Belo Horizonte, com uma loja no Buritis, Região Oeste da cidade.
“Desde então, cada passo tem sido guiado pela missão de oferecer vinhos de qualidade, a um preço acessível, e proporcionar uma experiência única e memorável aos nossos clientes”, garantem os sócios da franquia, Felipe Lasmar e Thiago Miranda.
O catálogo inclui o que eles chamam de Velho Mundo (Alemanha, França, Espanha, Itália e Portugal) e descobertas do Novo Mundo (África do Sul, Austrália, Argentina, Chile, Nova Zelândia, Uruguai e Brasil). “A seleção prioriza a diversidade e a qualidade, oferecendo vinhos que vão dos tintos robustos aos brancos frescos”, afirmam. A dupla também ressalta a exclusividade dos rótulos, que só são encontrados na loja. Os preços vão de R$ 49,90 a R$ 1.600.
O vinho mais procurado, segundo Felipe e Thiago, ganhou destaque recentemente. “O Miss Schmitt Riesling é recente na Vinho & Ponto BH Buritis, especialmente recomendado para harmonização com pratos tradicionais brasileiros, como leitoa à pururuca. É um vinho branco com acidez vibrante, delicada doçura e notas cítricas que equilibram sabores intensos”, apontam.
As garrafas vêm de diversas regiões e passam por diferentes técnicas de viticultura e vinificação, ciências que estudam, respectivamente, o cultivo da uva e o processo para transformá-la em vinho. A aposta dos produtores vem de encontro ao que os dois acreditam ser a tendência do mercado atual: “Beber menos, mas beber melhor”.
Como exemplo, os sócios citam o Socalcos de Murça DOC Douro, proveniente da região vinícola do Douro, em Portugal. Ele é produzido em solos predominantemente de pedra xisto e elaborado a partir das uvas Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Barroca e Sousão.
“O vinho se destaca pela cor rubi profunda e pelos aromas intensos de frutas vermelhas maduras. No paladar, apresenta uma estrutura equilibrada, com taninos elegantes e uma boa persistência, resultado da combinação de altitude, exposição solar e solos xistosos”, explicam.
Doce na medida
O Château Lamothe Guignard AOC Sauternes 2ème Cru é um vinho de sobremesa clássico da França, cuja doçura vem do processo de colheita tardia das uvas, afetadas pela chamada “podridão nobre”, que concentra os açúcares e os sabores, resultando em um vinho doce na medida certa. “Ele se destaca pela sua cor dourada profunda e aromas intensos de frutas cítricas. Possui um paladar aveludado, sedutor e um final elegante com um leve toque mentolado”, acrescenta a dupla.
Já o Korta Selección Especial Grosse Merille é feito a partir de uma uva rara. “A Grosse Merille é uma variedade quase extinta na França, onde era tradicionalmente cultivada, mas caiu em desuso. No entanto, ela encontrou uma nova vida no Chile, especialmente no Vale de Lontué, onde se adaptou bem ao terroir local e é produzido por poucas vinícolas”, relatam. Segundo os sócios, a produção limitada proporciona um vinho leve, de cor rubi clara, aromas de frutas vermelhas frescas e taninos suaves.
Queijos e frios
Para além da venda dos rótulos, a loja oferece os serviços do wine bar, um “braço de experiências pensado para promover seu prato principal: o vinho”, como definem Felipe e Thiago. No espaço, podem ser realizados eventos, como confrarias, reuniões e comemorações.
“Todos os vinhos disponíveis na loja são servidos à mesa pelo mesmo preço da gôndola e podem ser harmonizados com diversas opções de petiscos, como queijos brasileiros e charcutaria francesa, e algumas opções de pratos do dia”, destacam.
A loja também possui um bar de coquetelaria, sendo que todos os drinques levam vinho em sua composição. Entre eles, Sangria (vinho tinto seco, água tônica e suco de laranja) e o Kir Royale (vinho branco seco e creme de cassis). Além disso, uma equipe de sommeliers marca presença para orientar desde o iniciante ao mais experiente.
Mais conhecimento
A Evino começou pelo e-commerce, com compra e venda de vinhos pela internet. Atualmente, já soma 10 lojas físicas espalhadas por várias cidades, entre elas Belo Horizonte. A marca nacional, fundada em 2013 por Ari Gorenstein e Marcos Leal, busca inserir a cultura do vinho no dia a dia dos brasileiros.
A loja oferece uma carta variada de vinhos, especialmente de países europeus e sul-americanos, com valores que variam de R$ 39,90 até R$ 1,5 mil. “Observamos um consumidor cada vez mais interessado, tanto em experimentar novos rótulos quanto em incluir vinhos em seus eventos. Notamos uma preferência por rótulos importados. Os preferidos costumam ser os argentinos, italianos e portugueses”, aponta a vendedora Natalia Fernandes.
Segundo ela, a maior procura é pelo tinto português Portada. De cor vermelho rubi, com notas de frutas maduras como ameixa e groselha, deixa um sabor frutado com final levemente adocicado. O rótulo promete harmonizar perfeitamente com carnes vermelhas, pizzas, massas de molho vermelho e queijos.
Além da venda de vinhos, a Evino promove degustações mensais, abertas tanto para quem quer aprender quanto para quem já é fã da bebida. Os eventos, divulgados on-line, podem ser gratuitos ou pagos. O espaço também conta com um empório onde são vendidos destilados como gim, vodca, uísque e cachaças, geleias, antepastos e azeites, tudo pensado para enriquecer a experiência do cliente.
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A loja ainda possui serviços de wine bar para quem quer tomar vinho acompanhado de boas conversas. O serviço está disponível para garrafas e taças. Em breve, chegará uma atração desejada pelos amantes da bebida. “A experiência Monte Seu Blend, será relançada em 2025. As pessoas poderão ter uma aula de harmonização para aprender a criar seu próprio rótulo”, adianta Natalia.
Caso o público não possa ir à loja, é possível receber os vinhos favoritos sem sair de casa pelo delivery, onde podem ser encontradas as mais de 150 opções disponíveis na unidade.
Serviço
Casa Geraldo (@casageraldo)
Avenida do Contorno, 7060, loja 2 – Lourdes
(31) 3223-7328
Liber Wines (@liberwinesbr)
Rua Major Lopes, 613 – São Pedro
(31) 2534-0070
Vinho & Ponto (@vinhoeponto_buritis)
Avenida Aggeo Pio Sobrinho, 60 – Buritis
(31) 98987-0835
Evino (@evino_bhsavassi)
Rua Antônio de Albuquerque, 746 – Funcionários
(31) 3564-3574
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino