Em 2024, Belo Horizonte ganhou novos sabores e experiências que deram ainda mais vida à sua cena gastronômica. De bares inovadores a restaurantes com conceitos únicos, novos estabelecimentos conquistaram o paladar e o coração dos belo-horizontinos, provando que a capital mineira segue sendo um verdadeiro polo de criatividade à mesa. Nesta retrospectiva, embarcamos em um passeio saboroso pelas principais aberturas do último ano.
JANEIRO
Casarão histórico
Nomeado em referência à Avenida Bias Fortes, onde fica localizado, o Seu Bias resgata o passado ao mesmo tempo em que dá espaço para a autenticidade. Isso acontece em razão da escolha do imóvel tombado, que tem 97 anos. A casa faz parte do palacete da família Falci, composta hoje por 11 irmãos, e, antes de ser restaurante, acolheu um ateliê de vestidos de noiva.
O projeto nasceu de uma parceria entre os sócios Vitor Moretti e Pedro Henrique Amorim. “Buscamos trazer à tona o charme e a elegância da casa a partir de texturas, cores e vitrôs”, explica Vitor. Após 14 meses de reformas, o Seu Bias foi dividido em dois andares, além das mesas espalhadas pelo jardim. “Muitos dizem que a sensação é como jantar em uma casa de filme”, acrescenta.
Assinado pelo chef Mário Portella, o menu, que tem a parrilla como protagonista, dialoga com o charme retrô do ambiente. Os carros-chefes são o ancho servido com purê de queijo Canastra e farofa de bacon e o “Arroz caldoso do mar”, com camarão, polvo e bacon.
Para os amantes de happy hour, o restaurante oferece uma carta de drinques autorais. “O mais pedido é o Astral, à base de gim de cassis com espuma de cereja marrasquino e toque de purê de limão siciliano para trazer frescor”, diz Moretti, que também é mixologista. Nas bebidas, ele explora ingredientes exóticos como puxuri, patchouli, jasmim manga e baunilha banana.
• Avenida Bias Fortes, 161 – Lourdes
De quarta a sexta, das 18h à 1h; sábado, das 8h à 1h; domingo, das 8h às 18h
(31) 97220-4999
FEVEREIRO
Para partilhar
Um ambiente pequeno e charmoso caiu nas graças de quem procura um lugar descontraído e casual para compartilhar a comida. Lá não tem prato principal nem sobremesa, só entradas para dividir. Esse é o Padrin, de Daniel Tassi, definido como bar de tapas – termo espanhol que se refere a aperitivos.
O chef sempre foi um frequentador assíduo de bares e logo abraçou a oportunidade de abrir o seu, não só pelo serviço descomplicado, mas pela liberdade criativa. O Padrin (nome que homenageia o padrinho de batismo de Daniel) é dominado pela influência asiática, mas é como o próprio Tassi diz: “Acho legal essa diversidade de, ao mesmo tempo, servir um asiático, uma milanesa e um crudo.”
Na cozinha, a criatividade desponta e dá fama ao bar que é referência no Bairro Carmo. Petiscos como crostini de cogumelo e carne de panela misturam o estilo comida de boteco com ingredientes refinados. Também são incorporados ao cardápio batata frita com queijo Canastra e furikake, moela de pato e tonkatsu (lombo de porco marinado, empanado na farinha panko e frito), que acompanha mel de pimenta sriracha e maionese da casa à base de leite.
• Rua Campanha, 11 – Carmo
De quarta a sexta, das 18h à 00h; sábado, das 13h à 00h (a partir do dia 8)
Sorvete de verdade
Foi em uma tarde quente de fevereiro, enquanto passeava pela cidade, que Pedro Barbosa, recém-chegado a BH, desejou tomar um sorvete com sabor regional. “Fui em alguns lugares daqui e não encontrei. Achava as gelaterias e sorveterias muito padronizadas. Então, pensei: e se eu conseguisse fazer algo diferente? Minas é uma potência quando falamos de ingredientes locais”, conta.
Dessa ideia nasceu a Uaiê. “Senti que era minha missão fazer algo diferente aqui. Fui atrás do nome, da estética e de pequenos produtores regionais. A Uaiê é isso: um pedacinho de mineiridade em forma de gelato e até uma provocação para a indústria que roubou o sorvete de nós, transformando-o em pó saborizante e gordura hidrogenada”, afirma.
As sobremesas mais pedidas hoje são a broinha de fubá de canjica com creme de milho verde e sorvete de canela; o canudinho com sorvete de doce de leite e raspas de limão; o sorvete de requeijão moreno com goiabada cremosa e o pudim de queijo Canastra bruleé com sorvete de leite queimadinho. “É surpreendente. Todos os clientes voltam rápido para provar todos os sabores e vêm toda semana.”
A expectativa para 2025 é trabalhar com ainda mais ingredientes regionais. “Quero conseguir frutas do cerrado do Norte de Minas e da caatinga do Nordeste, como o coquinho azedo e a mangaba, além de frutas da Amazônia. Estou super empolgado”, compartilha.
• Rua Padre Odorico, 78 – São Pedro
De terça a sexta, das 11h às 20h; sábado e domingo, das 13h às 19h
ABRIL
Encontro das águas
Macaréu é o nome que se dá a uma grande onda formada pelo encontro das águas do rio e do mar. Mas também é como se chama a quarta casa de Leo Paixão em BH, especializada em frutos do mar. A nova aposta do chef, que já comanda Glouton, Ninita e Nicolau, chama a atenção pela elegância do ambiente e ingredientes de alta qualidade em seus pratos.
Ao “mergulhar” no cardápio, você encontra várias opções atrativas, como o polvo na brasa com batata-baroa e lula com salsa de tomate e o ceviche com camarões, polvo, peixe-branco e mini lulas acompanhado de chips de inhame e milhos peruanos. Outra boa pedida para aqueles que, assim como Leo, não abandonam a essência mineira é o tropeiro de frutos do mar assados na brasa.
• Rua Dicíola Horta, 77 – Belvedere
De terça a quinta-feira, das 12h às 16h e das 19h às 23h; sexta e sábado, das 12h às 17h e das 19h às 00h; domingo, das 12h às 17h
Itália em BH
Já imaginou fazer uma viagem sem sair do lugar? Isso é possível no Pastaio, restaurante que carrega heranças italianas. A palavra que dá nome à casa é usada para designar quem faz massa na Itália, e é exatamente essa a intenção do restaurateur Victor Hugo Barcelos e do chef Yves Saliba, que também estão à frente do Per Lui e do Odoyá: utilizar técnicas tradicionais passadas de geração em geração, combinando farinha, ovos e outros ingredientes para criar massas com texturas e sabores únicos.
“O Pastaio segue uma pegada à la carte e intimista”, define Victor. Como destaques, o menu apresenta o spaghetti ao pomodoro e burrata defumada, o gnocchi a la matriciana com polvo defumado e o fettuccine trifolati de cogumelos. Já para adoçar o paladar, a deliciosa combinação de café, chocolate e mascarpone forma o clássico tiramisu.
• Avenida Getúlio Vargas, 58 – Funcionários
De quarta a sábado, das 19h às 23h; domingo, das 12h às 17h
(31) 98865-0026
MAIO
Tradição e inovação
O tradicional pão de queijo com queijo Canastra, que está há quatro gerações na família de Larissa Albuquerque e Yuri Villela, abalou as estruturas dos belo-horizontinos em 2024. Na loja Soul de Queijo, os irmãos apresentam a receita clássica combinada com novos ingredientes e formatos.
Por lá, a inovação chama a atenção. Os primeiros sabores que saíram foram gorgonzola e chocolate. Hoje já tem provolone, torresmo, multigrãos, doce de leite e goiabada.
Com a mesma massa, surgiu o bubble cheese, parecido com o waffle, só que, no lugar dos buraquinhos quadrados, são bolhas, que podem ser preenchidas com recheios doces e salgados, como creme de alho e doce de leite. Se a fome for maior, peça-o na versão sanduíche. O mais pedido é o de queijo brie com pera caramelizada e muçarela, mas também vale a pena experimentar o de caprese com muçarela de búfala, tomate, molho pesto, cream cheese e peito de peru.
• Rua Antônio de Albuquerque, 892 – Savassi
De segunda a sábado, das 9h às 21h30
(31) 99347-5810
JUNHO
Nas alturas
Situado no terraço do BH Outlet, o Mitra combina a riqueza do Mediterrâneo com a tradição mineira. Essa mistura é transmitida não só na culinária do chef português Cristóvão Laruça, mas também no espaço que, com cerca de 300 lugares, é um misto de restaurante, lounge e sunset bar, inspirado no verão europeu, mas com uma vista deslumbrante do mar de morros de Belo Horizonte.
Curiosamente, o Mitra viralizou nas redes sociais no último ano por um aspecto que vai além do ambiente ideal para desfrutar uma refeição, especialmente ao pôr do sol. Por lá, o banheiro ganhou os holofotes. Através de efeitos de projeção e luz, faz parecer que você está na areia da praia.
O cardápio tem entradas como batatas fritas trufadas com parmesão, mexilhões com tomates confitados e cebola e ostras. Os pratos principais agradam tanto os amantes de frutos do mar, com o polvo, romesco de brócolis e batatas fritas, quanto os apreciadores de carne, com o cordeiro grelhado, cuscuz marroquino com vegetais na brasa, molho de iogurte com hortelã e pesto de pistache.
• Rodovia BR-365, 7515, loja LJ – Belvedere
Sexta, das 17h à 00h; sábado, das 12h às 22h; domingo, das 12h às 20h (apenas com reservas)
(31) 98501-3008
SETEMBRO
Brasa e fogo
O diferencial do Casa Calixto está em um equipamento muito utilizado na Europa: o forno a carvão. O chef João Paulo Oliveira não abriu mão dessa máquina quando assumiu a cozinha do restaurante. O equipamento ainda é uma raridade em BH, mas muito famoso por levar sabor de churrasco, apreciado pelo paladar do brasileiro, aos mais diversos ingredientes.
O mais comum é usar o forno a carvão para preparar carnes. Entre os exemplos, estão o entrecôte com cenoura, cogumelos, bacon, brócolis e batata rústica; o flat iron com molho poivre, tomate à provençal, salada de agrião e rúcula e batata rústica e o escalope de filé-mignon com linguine cacio e pepe defumado e brócolis ao molho roti.
Por outro lado, a ferramenta também cai bem no preparo de legumes, como os brócolis, que chegam à mesa crocantes e com um leve sabor de tostado. O chef aproveita o forno bem quente para grelhar o tomate e o pimentão vermelho que servem como base para o molho romesco da burrata, o que acrescenta um toque defumado.
• Rua Padre Odorico, 81 – São Pedro
Quarta e quinta, das 18h às 23h30; sexta e sábado, das 12h às 16h; domingo, das 12h às 16h30
(31) 2118-5473
NOVEMBRO
Receitas de amor
Chame como quiser: mágica, cupido ou destino. Só sabemos que bastaram cinco dias trabalhando juntos em um restaurante em São Paulo para que Carolina Elias e Pedro Paulo começassem a construir uma história a partir do amor entre eles e pela gastronomia. Foi o que deu origem ao Casa Riuga.
O nome vem da pronúncia de hygge, palavra dinamarquesa que se refere a um sentimento de conforto, aconchego e bem-estar. Nada mais representativo da emoção que surge ao cozinhar juntos, e que também traduz o estilo de vida escandinavo. A região europeia transparece nas técnicas utilizadas e no ambiente. “O restaurante é pequenininho, possui poucas mesas e luz baixa. Esses detalhes foram pensados para oferecer uma noite super agradável, mas, ao mesmo tempo, sem formalidades”, diz Pedro.
O cardápio é “não convencional”. “Dividimos em pratos frios, vegetais e grelha. Sugerimos que os clientes passem pelas sessões da forma como preferirem, podendo fazer diversas combinações”, ele explica. O público encontra opções como burrata com pepino e abobrinha laminados; couve-flor amanteigada na brasa com purê de castanha-do-pará e limão; abóbora chapeada acompanhada de creme de ricota com avelã tostada, além de opções de carne como ancho de angus, galeto desossado e camarão.
• Rua Cláudio Manoel, 1124 – Savassi
De terça a sexta, das 18h30 às 23h; sábado, das 12h às 16h e das 18h30 às 23h (a partir do dia 7)
Com personalidade
Depois do Birosca, Florestal e Gira Vinhos, a nova aposta da chef Bruna Martins tem a Espanha como principal inspiração. “Os sócios-proprietários do antigo ponto me convidaram para assumir e eu disse que a condição seria abrir um novo estabelecimento. O nome Gata Gorda veio junto com o conceito de ter um restaurante divertido com inspiração espanhola”, declara.
Cores e formas dão o tom criativo ao ambiente, que mistura a obra do arquiteto espanhol Gaudí ao ritmo de música latina. Para somar a autenticidade, uma figura se destaca. “A ideia era ter uma personagem com uma personalidade bon vivant que fosse meio non sense, com as cores e referências ao Almodóvar”, explica Bruna, referindo-se à “Gata Gorda”, que representa toda a estética da casa.
Como define a chef, a cozinha é uma fusão das comidas espanhola, brasileira e basco-mineira com uma pegada criativa e pop. “Temos vários pratos favoritos, mas ainda é cedo para dizer um carro-chefe. Os que mais saem são brioche de atum com ovo de codorna, homus de pistache com mortadela, croquetas e paella”, acrescenta Martins. De sobremesa, vale comer a torta basca.
• Rua Levindo Lopes, 96 – Savassi
De terça a sábado, das 12h à 00h; domingo, das 12h às 17h
DEZEMBRO
DDD 31
Localizado no prédio onde será inaugurado o primeiro Hotel Tribe da América Latina, o Trintaeum chegou com o intuito de destacar os sabores regionais, em apresentações sofisticadas e com ingredientes exclusivamente de Minas Gerais.
“A escolha por valorizar a regionalidade nos levou à referência do DDD 31, que aponta a localização da região ao qual pertencemos e também a gastronomia que praticamos”, comenta a chef Ana Gabi Costa, que define seu trabalho como cozinha mineira autoral. “Trouxe minhas maiores referências de mineiridade repaginadas em pratos sofisticados.”
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Já fazem sucesso o jiló recheado com fígado e empanado na pururuca com cebola caramelizada e mostarda e o pastel de angu recheado com umbigo de banana e requeijão de raspa. Entre os pratos principais, sobrecoxa grelhada de frango com caldo de galinha, angu de milho verde, quiabo e gema e lombinho com tutu, banana e ovo. No cardápio de sobremesas, destacam-se a versão do amor em pedaços e o pudim de leite condensado e compota de ameixa fresca com cachaça.
“Em março, vamos abrir ao público o café da manhã e ainda no primeiro semestre teremos a cafeteria Broa e a drinkeria Coreto”, adianta Ana Gabi.
• Rua Professor Antônio Aleixo, 20 – Lourdes
De terça a sábado, das 12h às 15h30 e das 19h às 23h; domingo, das 12h às 16h30
(31) 971417308
Couve-flor amanteigada na brasa com purê de castanha-do-pará (Casa Riuga)
Ingredientes
- 1 couve-flor inteira;
- sal a gosto;
- azeite a gosto;
- 100g de castanha-do-pará;
- 1 limão taiti
Modo de fazer
- Escolha uma couve-flor bem branquinha e compacta de formato uniforme.
- Tire as folhas e deixe de molho em água com bicarbonato por alguns minutos.
- Drene a água e certifique-se que estão bem higienizadas.
- Corte-as ao meio e tempere as metades com bastante sal e um fio de azeite.
- Enrole cada uma das metades da couve-flor em papel-alumínio e asse lentamente a 180°C por 30 minutos.
- Espete com uma faca para checar o ponto.
- Ela deve estar macia, porém levemente crocante.
- Para o purê, processe a castanha-do-pará com água até atingir uma textura lisa e uniforme.
- Tempere com sal, suco de limão taiti e azeite.
- Com a brasa já acesa, leve a couve-flor para a grelha e pincele a cada 3 minutos com azeite ou manteiga, o que for de sua preferência.
- Ao final, ela deve estar tostada, dourada por fora e macia por dentro.
- Finalize com um azeite concentrado de salsa, flor de sal e ceboulette direto no prato.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino