Famosa chocolateria de BH muda o visual para comemorar 40 anos
Eleita várias vezes a melhor chocolateria da cidade, Fany Bombons conquista clientes há quatro décadas com busca incansável por padrão e qualidade
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Siga noSempre é tempo de se modernizar. A Fany Bombons, de Belo Horizonte, celebra 40 anos com logomarca e projeto arquitetônico repaginados. Mas as receitas continuam iguais, é bom deixar claro. Hoje sob a gestão de Ari Balabram e Ana Luiza Kierulff – e o olhar atento da fundadora, Fany Balabram, a marca mantém na cozinha a busca constante por qualidade e na vitrine os produtos que a fizeram famosa, em especial, a torta de chocolate.
Fany começou a fazer bombons em 1983. Formada em ciências sociais, ela tinha sido concursada do ex-Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI) e, naquela época, trabalhava com o marido, Moysés, que era engenheiro. Mas uma crise da construção civil forçou a mudança de rota.
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Com quatro filhos, Fany buscava uma atividade que pudesse exercer em casa. “Tinha saído uma reportagem em alguma revista falando sobre bombons e resolvi fazer. Sempre gostei de cozinha, mas não tinha experiência nenhuma com chocolate”, conta. Mais de 90% das receitas foram desenvolvidas na base de ensaio e erro.
Os primeiros bombons eram de chocolate ao leite, puro ou com adição de ingredientes como castanha de caju, castanha do Pará, nozes, passas e amendoim. Hoje o caramelo salgado está na lista para mostrar que a marca sempre se atualiza, mas sem seguir modismos. Os produtos são pensados para resistir de geração em geração.
O tempo passou, os bombons ficaram conhecidos no boca a boca e, no período do Natal, quando tinha mais movimento, a família chegava a trabalhar de madrugada para dar conta das encomendas. “Era uma luta”, comenta Fany. Como não tinha funcionários, ela contava com a ajuda dos filhos e dos amigos dos filhos – entre eles, Ana Luiza, que mais tarde se casaria com Ari e participaria da gestão da marca.
A chegada das trufas
Em 1989, Fany abriu a primeira loja, no Sion, em uma área que era parte da garagem da casa da família. Nesse meio tempo, Ari ficou alguns meses fora do Brasil e voltou com várias ideias, como a de fazer trufas.

A primeira foi de uísque, que até hoje tem uma legião de fãs. Depois vieram ao leite, chocolate branco com amêndoas, cereja, conhaque, pistache (muito antes da febre no Brasil e no mundo)... Nutella foi o último sabor. “Tivemos que nos render porque sempre perguntavam: não tem nada de Nutella? Colocamos uma avelã torrada por fora para não deixar com cara infantil”, destaca Ana Luiza.
Os livros serviram de guia para as aventuras de Fany na cozinha – hoje formam uma biblioteca invejável de confeitaria e chocolataria. Além disso, em toda a viagem, eles aproveitavam (e ainda aproveitam) para buscar referências. Ari e Ana Luiza chegaram a morar três anos na França.
“A primeira vez em que fui à Europa visitei um chocolatier famosíssimo em Lyon que eles já conheciam. Na maior cara de pau, falamos que éramos do Brasil, também trabalhávamos com chocolate e queríamos ver a cozinha. Na hora em que entramos, eles estavam glaçando uma trufa de cereja com a mão. Fiquei horrorizada”, aponta Fany.
Torta de aniversário
Com bombons, trufas e chocolates nos mais diversos formatos (de buquê de flores a borboleta), a marca conquistou uma clientela apaixonada. Mas o que fez a sua fama definitiva foi uma receita que não saiu dos livros nem das viagens: era a torta de chocolate que Fany fazia nos aniversários dos filhos.

“Teve uma vez em que comprei uma torta pronta e eles não gostaram. Aí, num outro ano, perguntei para o Ari qual torta ele queria. 'Quero torta de chocolate, mas não quero comprada', ele respondeu”, relata a mãe, mostrando que toda a família sempre foi “formiga” (nas palavras do filho) e com forte inclinação chocólatra.
A torta de chocolate ganhou o mundo (literalmente, já que, vira e mexe, aparece uma encomenda com destino internacional) a partir de 1995, quando surgiu a oportunidade de abrir a loja do Ponteio Lar Shopping. Lá começou o serviço de cafeteria e lanchonete, primeiro com pão de queijo, depois com os salgados, tudo de fabricação própria.
Hoje, em qualquer uma das lojas, dá para comer itens como sanduíche de queijo e nozes, cachorro-quente aberto e tortinha de frango com catupiri. Para adoçar o paladar, nada melhor que uma fatia de torta (são mais de 20 sabores) e o chocolate quente, considerado pela família “o melhor de todos”. O segredo, que eles não revelam, está em conseguir o máximo de cremosidade só com chocolate. Não tem maisena nem nenhum outro espessante.
“Fomos a uma fábrica de chocolate em Bayonne, França, na divisa com a Espanha, a cidade do chocolate. Aí falei: 'É agora que vamos experimentar um chocolate quente melhor que o nosso.' Não sou metida, não, tá? Tomei um gole, mas era horrível, não tinha gosto de nada”, comenta Fany.
Reforço inesperado
No fim de 2015, Fany ligou para Ari e avisou: “Estou pensando em vender a loja”. Ela e Moysés já não davam mais conta de cuidar de tudo e cada filho seguia sua carreira, três deles morando fora de BH. Três dias depois, o filho retornou: “Não vende, não, que eu e a Ana estamos indo tocar o negócio”, relembra a mãe, que até hoje fica arrepiada ao reviver esse momento.

Engenheiro mecânico, Ari trabalhava havia 20 anos na mesma empresa e sentia o mesmo: estava cansado da rotina. O casal, então, veio de mudança de Indaiatuba, no interior de São Paulo, com os dois filhos.
No ano seguinte, eles resolveram montar a terceira loja, no Pátio Savassi. “Foi com a cara e a coragem”, conta Ari, que não quis perder a oportunidade, mesmo sem estar totalmente inteirado do negócio. O casal abriu o novo ponto com uma única torta na vitrine (cena inesquecível) e foi levando mais produtos ao longo do dia.
Cada loja tem um perfil diferente de consumo. O público do Ponteio senta para tomar café e lanchar. No Pátio, sai mais pedaço de torta. Já no Sion, a procura maior é por torta inteira e encomendas. Muitos clientes da matriz são velhos conhecidos, o que proporciona mais proximidade e bate-papo. Só para se ter uma ideia, uma senhora leva, todo Natal, uma vasilha para a mousse de chocolate.
Atenta a tudo
Fany já não participa mais do dia a dia do negócio. Atualmente, só faz os pagamentos (na época em que trabalhava na construtora do marido, comandava toda a área financeira). O filho e a nora falam que ela reclama que não tem memória e que a cabeça está horrível, mas dá notícia de tudo. “Daqui a pouco vem ela com uma nota fiscal e fala: ‘Você viu quanto que pagamos nisso aqui? Olha que absurdo, no mês passado pagamos tanto'”, diverte-se Ana Luiza.

Mas ninguém deixa a fundadora ficar muito tempo longe. Eles brincam que, sempre que a Fany aparece, a loja fica cheia.
A cozinha hoje fica por conta de Ana Luiza. Arquiteta de formação, ela fez curso de gastronomia, por hobby, quando ainda nem imaginava que assumiria a Fany Bombons. “Devagarinho, muito devagarinho, fomos mudando as coisas. Eles precisavam de um controle, sabe, uma gestão mais racional e menos emocional. Chegamos de fora com uma outra visão.”
Mesmo assim, ela conta que a empresa familiar só passou a ser encarada, de fato, como negócio depois da pandemia. “Ou a gente fazia virar um negócio, ou a gente ia fechar.”
A escolha valeu a sobrevivência da marca, que passou por todas as turbulências sem fechar nenhuma loja nem demitir funcionários (são 30). Além disso, deu segurança para tomar decisões. “De todos os fornecedores que tínhamos, um único não negociou no início da pandemia. Então, paramos de comprar.” Simples assim.
Já Ari cuida do administrativo e do restante do financeiro. Apesar de ficar nos bastidores, de vez em quando, ele também gosta de conversar com os clientes. “Quando estou no caixa da loja, a primeira coisa que pergunto é: você gostou? E é sempre legal ouvir 'nossa, está maravilhoso, sempre igual'. A gente fica muito feliz.”
Projeto novo
Sentados em uma mesa na loja do Sion, os três relembram as histórias e contam sobre as mudanças pelos 40 anos. A começar pela logo, agora com o F mais arredondado e “rechonchudo”.
Por enquanto, a matriz é a única unidade que já está com o projeto novo. Paredes com menos “branco clínica” – como Ana Luiza se refere às preferências de Moysés, que faleceu em 2023, em tom de brincadeira – e mais cores (verde, bege, vermelho e o clássico marrom, que continua, inclusive em versão de listras).
Em meio ao entra e sai constante de clientes, cheiro de brigadeiro saindo da cozinha, eles demonstram entrosamento e muito carinho pela marca que Fany criou, mas que não imaginou que chegaria tão longe. “Fiz tudo por necessidade, e foi uma necessidade que deu certo. Foi difícil? Foi. Ainda mais com quatro filhos. Mas acho que deu certo”, diz a fundadora.
E como deu certo, Fany. A chocolateria já foi eleita várias vezes a melhor de Belo Horizonte e leva o nome da fundadora para todos os cantos. “Por isso que tudo tem que ser muito bem-feito e com insumo muito bom.”
Fondant de chocolate

Ingredientes
- 150g de chocolate meio amargo;
- 80g de manteiga;
- 3 ovos;
- 100g de açúcar;
- 60g de farinha de trigo;
- 100ml de leite;
- 1 colher de café de fermento químico
Modo de fazer
- Pré-aqueça o forno em 180º.
- Pique o chocolate em um bowl e acrescente a manteiga para derreter em banho maria ou no micro-ondas.
- Bata os ovos inteiros na batedeira com o açúcar até que a mistura branqueie.
- Acrescente a farinha, o fermento e o leite. Misture bem.
- Acrescente o chocolate derretido com a manteiga e continue misturando sem parar.
- Em uma forma/travessa untada com manteiga coloque a massa e ponha no forno.
- Asse por mais ou menos 20 minutos.
- Retire do forno e deixe esfriar um pouco para desenformar.
- Sirva o bolo mais quente com uma bola de sorvete de creme.
Serviço
Fany Bombons (@fanybombons)
Rua Pium-í, 1636 – Sion
BR-356, 2500 – Santa Lúcia
Avenida do Contorno, 6061 – Savassi
(31) 98793-7763