Pão de queijo: confira sabores que você nunca viu
Chefs combinam o pão de queijo com ingredientes inusitados. E o resultado não deixa a desejar
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Siga noNa virada de 2024 para 2025, o céu de Belo Horizonte, visto da Praça da Liberdade, recebeu um show de drones, lasers e mapping — técnica visual que consiste em projetar imagens sobre superfícies — no formato de vários símbolos da mineiridade. Entre eles, pães de queijo “orbitando” um planeta, no formato de um queijo. O espetáculo levou o público à loucura. E não é para menos, já que é instantâneo: pensar em Minas Gerais é pensar em pão de queijo.
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Um bom pão de queijo acompanhado de um café passado “na hora” já basta para muitos em Minas. Mas pode melhorar. Esse clássico pode estar presente em outras refeições além do café da manhã ou da tarde. Aos apaixonados por ele, ótimas notícias: quatro chefs de cozinha fizeram da iguaria parte dos ingredientes em receitas inusitadas. Já outro profissional inovou na forma de preparar o ícone da gastronomia mineira, usando componentes mais inusitados ainda no preparo. Fato é que na sua forma original ou não, o quitute está sempre presente no paladar do mineiro.
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“Todo texto é um bolo de palavras. Toda receita é uma poesia.” Misturar bolo com pão de queijo pode parecer delírio. Para Fabiana Martins, fundadora do Polvilha Delícias e Delírios e dona das frases acima, realmente é. Ela explica que o nome da marca surgiu da vontade de explorar a versatilidade do polvilho. Mas mais do que isso: “Brinco que são meus delírios poéticos e tem também essa coisa do delírio de subverter o pão de queijo em formato de bolo”, diz. No texto de apresentação da empresa, a proprietária fala do desejo de alimentar, por meio do Polvilha, as “nossas fomes”: a real, a simbólica, os sentidos, as relações, o delírio, o sonho, o mistério, a magia, a coragem e a surpresa.
É na cozinha que Fabiana consegue se reconectar com a mãe e as avós, já falecidas. Quando passava as férias na casa da avó materna, no interior, ainda criança, ela a acompanhava em ação nos preparos dos alimentos. Fabi relembra que a vó era muito brincalhona e bem humorada: “Ela me colocava para enrolar pão de queijo, mas não enrolava na minha mão, que é muito quente. E ela adorava se divertir com isso, assim, tirar onda com a minha cara”, se diverte.
Por esse motivo ou não, o pão de queijo é sua comida predileta. Quando perguntada do porquê ela escolheu vender bolos do quitute, ela respondeu que se tratando de mineiros, todos recebem as visitas com café, bolo e claro: pão de queijo. “Por que não juntar essas duas delícias, né?”. Depois de muitos testes e com o auxílio dos registros das progenitoras, ela chegou na fórmula que usa hoje. E Fabi ressalta que não usa trigo, apenas polvilho.
O resultado da mistura descoberta pela dona da marca “leva o que o bolo tem de melhor”: massa “fofinha e macia”, com o sabor do queijo. “A gente não economiza no queijo”, explica. A chef de cozinha destaca a “casquinha crocante”, um mix de textura digno de muitos feedbacks positivos dos clientes. Outro fator que recebe muitos elogios segundo Fabiana é o recheio. Na medida certa.
São quatro sabores: o tradicional, goiabada cascão, doce de leite e linguiça artesanal. Os sabores jabuticaba e lombo defumado são “sazonais”. As opções de tamanhos disponíveis são: P, M, G, os preços vão de R$ 40 a R$ 70, de 10 a 16 fatias. E os minibolos, vendidos em caixas, a partir de R$ 25. O kit pode ser montado de acordo com o gosto do consumidor. Os de goiabada cascão e de linguiça artesanal são os queridinhos, segundo Fabi. Os dias de fornada são de quarta a sexta, mas a proprietária garante que para aqueles que perderem a data, podem combinar a entrega em outros dias, desde que pedidos com até três horas de antecedência.
A loja, localizada no Bairro Prado, Região Oeste de Belo Horizonte, “nasceu” em maio do ano passado e a chef ainda tem muitos planos para o futuro do Polvilha. Por enquanto, o maior meio de vendas é o Instagram, que já acumula 15,8 mil seguidores e o WhatsApp. Em breve, ainda neste mês, um site de entregas deverá ir ao ar.
OPÇÃO GELADA

A Pão de Queijaria é famosa não só pela iguaria em si, mas pelos recheios que chamam a atenção. Verdadeiros sanduíches. São várias as opções para se deliciar, entre eles, mix de cogumelos, filé mignon empanado, sobrecoxa de frango desossada, todos eles dentro do pão de queijo. Mas o que se destaca é algo que foge dos padrões: o sorvete de pão de queijo.
Quem está por trás dessa invenção é Paulo Roberto Lácio de Oliveira, mestre pão de queijo de profissão e responsável por desenvolver novas receitas com o ingrediente, além de cuidar da produção da cozinha. Segundo ele, a marca está sempre buscando usar a iguaria de formas diferentes. O sorvete, para ele, foi a receita mais ousada.
O chef conta que não precisa de muito para convencer as pessoas a experimentar: “Um visual maravilhoso e não é uma sobremesa muito doce. As pessoas às vezes querem uma sobremesa, mas não querem muita doçura nelas. Eu acho que o sorvete é bem isso, uma sobremesa muito saborosa, mas não é muito doce”, explica. Quem provar, vai saborear,além do sorvete em si, que conta com o Queijo Minas Artesanal, os croutons (também de pão de queijo), crocante de castanha-do-pará e melado de cana (R$ 29).
A ideia surgiu da necessidade de ter uma sobremesa refrescante disponível. E, para isso, o criador conta que fechou uma parceria para a produção e deu muito certo: “As pessoas gostaram muito. Sempre relacionamos a sobremesa doce, mas essa, não vou dizer que é salgada não, mas é uma sobremesa com pouco doce, o que atrai muita gente”, conta.
Além da opção gelada, o waffle e a farinha, os dois de pão de queijo integram o variado cardápio da empresa, que conta com quatro unidades na capital. Paulo diz que não quer parar mais.”Vem mais novidade por aí, com certeza, porque a gente está sempre buscando usar o pão de queijo de formas diferentes”, afirma.
A Pão de Queijaria teve início em 2013, a partir do desejo de reproduzir receitas de família.
A primeira unidade foi a da Região da Savassi. Depois de cerca de cinco meses da abertura, Paulo conta que já receberam uma premiação de “melhor pão de queijo de BH”, o que fez com que ele e a equipe tivessem a certeza de que “estavam no caminho certo”. Em 2021, expandiram as vendas para o Mercado Novo, Região Central. Depois, veio a unidade no Bairro Lourdes e por fim, a última loja (até agora) foi inaugurada na Região da Pampulha.

A pizza de pão de queijo surgiu quase por acaso. Rafaela Gontijo, CEO da NUU Alimentos, conta que tudo começou com um imprevisto: “Tivemos um problema numa loja pop-up — estabelecimento físico aberto por um período curto de tempo — no Leblon (RJ), e alguns pacotes de pão de queijo descongelaram. Para não desperdiçar, resolvemos testar algo novo: transformamos os pãezinhos em discos e colocamos coberturas variadas. O resultado foi tão bom que virou um dos nossos produtos.” Hoje, a pizza de pão de queijo já tem lugar garantido nas prateleiras, com sabores como marguerita, linguicinha, frango defumado e até versões doces, como doce de leite e goiabada.
Outro sucesso recente da marca é a pipoquinha de pão de queijo, uma parceria com a Mauricio de Sousa Produções. “O Chico Bento tem tudo a ver com a NUU. Valoriza a roça, a comida de verdade, a natureza. Quando surgiu a ideia, sabíamos que ia dar certo”, diz Rafaela. O snack segue a receita tradicional do pão de queijo da NUU, mas para ser comido “de punhado”, crocante por fora e macio por dentro. “É ideal para um filme, um happy hour, qualquer momento que peça um petisco gostoso e diferente”, acrescenta.
A proposta da marca é manter a tradição do pão de queijo, mas sem medo de inovar. “O pão de queijo é um cartão de visita do Brasil. Ele já é amado do jeito que é, mas quando deixamos a criatividade falar mais alto, ele fica ainda mais gostoso e versátil”, explica Rafaela. A empresa começou na cozinha da casa dela, com uma batedeira emprestada, e hoje tem fábrica em Patos de Minas, Triângulo Mineiro, onde nasceu. Lá, é produzido não só pão de queijo em diferentes versões, mas também palitinhos e dadinhos de tapioca.
Os produtos são vendidos congelados e podem ser encontrados em supermercados no Sudeste, Nordeste e Sul do Brasil. A marca também trabalha com delivery em São Paulo e no Rio de Janeiro. “Nosso e-commerce facilita bastante para quem quer garantir os produtos sem sair de casa”, diz a CEO. Os preços variam, mas a pizza de pão de queijo, por exemplo, custa entre R$ 19,99 e R$ 23,99 no delivery.
Peixe no “jeitim” mineiro

Gabriel Trillo Fonseca é o dono do restaurante Omilía, localizado em Nova Lima, Região Metropolitana de Belo Horizonte. O nome do estabelecimento significa “conversar”, em grego. A cozinha mineira sempre foi um convite à conversa. Essa é a essência do lugar, seja no ambiente aconchegante ou nos pratos que contam histórias. E entre essas histórias, uma das mais saborosas envolve um clássico reinventado: a tilápia empanada na farinha de pão de queijo. “O pão de queijo é emblemático. Ele não poderia ficar fora do cardápio de uma casa com o nosso conceito”, explica Gabriel.
A receita nasceu antes mesmo do restaurante. Quando ainda trabalhava como chef, Gabriel buscava maneiras de reaproveitar as sobras de pão de queijo da lanchonete onde cozinhava: “Eu desenvolvi essa receita utilizando o que sobrava na estufa. Aos poucos, fui testando diferentes usos e cheguei até essa combinação: empanar tilápia com farinha de pão de queijo e servir com risoto caprese”, conta. Um prato com a crocância do empanado e o frescor do risoto de tomate sweet grape, manjericão e parmesão foi o resultado.
A escolha da tilápia não foi aleatória. No Omilía, os ingredientes vêm de pequenos produtores mineiros, e o peixe não foge à regra. “Trabalhamos há mais de 15 anos com um fornecedor da Serra da Canastra, que seleciona as melhores tilápias para a gente. Elas são de cativeiro, bem limpinhas, robustas, sem aquele gosto de barro”, detalha Gabriel. A técnica de empanar segue o método milanês, mas a farinha especial de pão de queijo adiciona a identidade mineira.
A tilápia empanada é um dos carros-chefes da casa. “A gente recebe muitos turistas que vêm ao Omilía para conhecer a gastronomia mineira pelas mãos de um chef, e essa tilápia conquista todo mundo”, diz Gabriel. O prato custa R$ 89 e, segundo ele, representa bem o espírito do restaurante: uma ponte entre a tradição e a alta gastronomia. A maminha de lata com aligot de queijo canastra e o ancho grelhado com nhoque à romana de requeijão moreno também são sucessos.
No início, o Omilía era um pequeno bistrô, com apenas 38 lugares. Em 2023, cresceu e se mudou para um espaço maior, com capacidade para 250 pessoas. O conceito, porém, continua o mesmo: valorizar os sabores de Minas em cada detalhe. “Todos os pratos do Omilía têm essa conexão com ingredientes locais, com pequenos produtores. A gente quer que o cliente sinta Minas Gerais em cada mordida”, ressalta Gabriel.
COLORIDA E SAUDÁVEL

No Instituto Abras Gastronomia e Cultura, o tradicional pão de queijo ganha novas cores e sabores, mas sem perder a essência. A inovação vem do uso das plantas alimentícias não convencionais (PANCs) que transformam a receita clássica em um alimento nutritivo, sustentável e visualmente atrativo.
Criado pelo chef e pesquisador Michel Abras, o pão de queijo colorido carrega não apenas novos ingredientes, mas também uma proposta de reeducação alimentar. A taioba dá o tom verde vibrante, enquanto a cúrcuma e o ora-pro-nóbis resultam em um amarelo intenso. O hibisco e a vinagreira trazem o roxo e o rosa, e o jenipapo, quando ainda verde, oferece um azul natural que intriga e encanta.
“Eu queria unir um alimento que todo mundo gosta com ingredientes ricos em nutrientes, criando uma experiência saborosa e lúdica, principalmente para as crianças”, explica Michel. E a ideia funciona: ao associar a taioba a um pão de queijo verde, por exemplo, a aceitação dessa hortaliça em outros momentos da alimentação infantil se torna mais fácil.
Além do apelo visual e nutricional, os pães de queijo do Instituto Abras carregam uma preocupação com toda a cadeia produtiva. As PANCs utilizadas vêm de pequenos agricultores, fortalecendo a produção local e incentivando o cultivo de alimentos mais sustentáveis. “Essas plantas sempre fizeram parte da alimentação humana, mas foram esquecidas ao longo do tempo. Resgatá-las é uma forma de valorizar a cultura alimentar e promover um consumo mais consciente”, ressalta Michel.
A criatividade não para na massa colorida. No Instituto Abras, o pão de queijo também se transforma em outros preparos, como farofas e croutons. “A farofa de pão de queijo surgiu da necessidade de reaproveitamento. Em vez de descartar os pãezinhos que endurecem, trituramos e criamos uma farinha saborosa e nutritiva”, conta o chef. A farinha colorida é usada em receitas que levam manteiga, castanhas e até feijão-andu, resultando em uma farofa rica e cheia de identidade.
CROUTONS E LASCAS
Já os croutons de pão de queijo viram acompanhamento perfeito para caldos e saladas, assim como as lascas crocantes do pão de queijo, que dão um toque especial às receitas. “Basicamente, tudo o que a gente faria com um pão tradicional, pode ser feito com o pão de queijo”, completa Michel.
Os pães de queijo do Instituto Abras são vendidos em pacotes sortidos, permitindo que as famílias experimentem todas as cores e se divirtam no processo. “Desde o momento em que os pãezinhos são colocados no forno até a hora de saboreá-los, há uma experiência sensorial envolvida. E o mais importante: é um alimento natural, nutritivo e que carrega histórias”, finaliza o chef.
Os quitutes são comercializados em pacotes de 400g, com preço médio de R$ 24. Além das vendas diretas, o Instituto também oferece opções para revenda em maior quantidade. Os produtos estão disponíveis na sede do Instituto Abras, que funciona como cafeteria durante a tarde e restaurante escola à noite.
*Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie

Receita
Pão de queijo de hibisco
Por Chef Michel Abras
Ingredientes
• Polvilho azedo 500gr
• Polvilho doce 500gr
• Sal 25gr
• Gordura , (óleo, banha, manteiga....) 150ml
• Leite 150ml
• Água 350ml
• Ovos 240gr
• Queijo meia cura 600gr
• Hibisco seco (flor) 25gr
Modo de preparo
• Faça um chá com hibisco e água. Esfrie, coe e separe o chá e a polpa do chá.
• Bata a polpa do chá com o leite e coe.
• Misture o polvilho, sal e a polpa coada.
• Escalde o polvilho com o óleo, leite e água juntos e fervidos.
• Misture bem com cuidado.
• Deixe esfriar.
• Acrescente os ovos, um a um, mexendo sempre.
• Finalize a massa com o queijo ralado.
• Boleie como preferir e asse em forno pré-aquecido a 180°C por cerca de 25 minutos.